quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

EURICO GASPAR DUTRA

EURICO GASPAR DUTRA:Nasceu em 18 de maio de 1883, em Cuiabá, Mato Grosso. Filho de José Florêncio Dutra e Maria Justina Dutra. Nascido em família pobre, Dutra teve infância difícil em tempos conturbados na Província do Mato Grosso, onde o clima de disputas entre partidos afetava as famílias e dividia a sociedade. Bernardina Riche, considerada grande educadora e diversas vezes homenageada por Dutra, foi sua primeira professora. Atuava na escola municipal do bairro onde Eurico morava. Ele iniciou o secundário no Externato São Sebastião e o concluiu no Liceu Cuiabano. Nessas duas escolas, foi estudante muito aplicado e reservado. As modestas condições da família obrigavam o jovem Eurico a ocupar suas horas vagas em esforços para complementar o orçamento doméstico. Um desses serviços foi o de auxiliar no Mercado Municipal de Cuiabá. Ele ajudava, mas buscava meios que propiciassem a ele e à família um futuro melhor. O modo que encontrou para continuar os estudos e obter formação superior foi o engajamento militar. A primeira tentativa falhou, mas a segunda deu certo: ele foi destacado para a Escola Preparatória e de Tática do Rio Grande do Sul, na cidade de Rio Pardo. Aluno dedicado, soube conciliar os estudos com as obrigações de sargenteante – chefe administrativo – de sua companhia. Dutra ficou no Sul até concluir seu curso, em março de 1904. No dia 14 de abril, já estava inscrito na Escola Militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro, disposto a realizar seu sonho de ingressar no corpo de oficiais do Exército. Suas esperanças quase caíram por terra em novembro seguinte, quando os tumultos contra a campanha de vacinação obrigatória do período Rodrigues Alves (1902-1906), episódio que se tornou conhecido como a “Revolta da Vacina”, deram ensejo a uma tentativa de golpe de estado. No confronto, os revoltosos foram derrotados. Silvestre Travassos ficou gravemente ferido e faleceu no Hospital Central do Exército. Ferido em um olho, Dutra também ficou internado no HCE. As escolas Militares e Preparatórias de Realengo, apesar de terem aderido ao grupo de Silveira Travassos, falharam em suas intenções por interferência de seu comandante e foram fechadas. Seus alunos, desligados e expulsos do Exército. Dutra não foi na primeira leva porque estava internado. Assim que saiu do hospital, foi incluído no 24º Batalhão de Infantaria, aguardando segunda ordem. Que não demorou: Exclusão, em 9 de dezembro de 1904. Foi mandado excluir das fileiras do Exército, de acordo com o aviso nº 2.409, visto ter tomado parte, como aluno da Escola Militar do Brasil, no movimento de 14 de novembro. Dutra retornou à casa dos pais, em Cuiabá, desolado e arrependido. Menos de um ano depois, o governo anistiou todos os implicados na “Revolta da Vacina”. Dutra voltou rapidamente para o Rio de Janeiro e para o 24º Batalhão de Infantaria. Permaneceu nessa unidade até 1906, quando foi transferido para a Escola de Guerra, em Porto Alegre, com a patente de cadete. Só saiu de lá em 1908, já classificado como aspirante, para o 1º Regimento de Cavalaria do Rio de Janeiro. Assim que terminou seus estudos na Escola Militar, em 1908, Dutra matriculou-se na Escola de Artilharia e Engenharia, em Realengo, para fazer um curso de aperfeiçoamento em mecânica, balística e metalurgia. Permaneceu lá até completar o período de estágio em fevereiro de 1910. Aprovado nos estudos, Dutra foi promovido a segundo-tenente pelo decreto de novembro de 1910, no cargo de instrutor de recrutas. Lecionou até 1912, ano em que foi nomeado instrutor de segundo grau, após ser incluído na Escola de Cavalaria. Outra vez transferido e promovido, tornou-se instrutor da Arma de Cavalaria na Escola Militar. No dia 19 de fevereiro de 1914, Eurico Gaspar Dutra casou-se com Carmela Telles Leite e tiveram dois filhos: Emília e Antônio João. Criaram ainda dois filhos do primeiro casamento de Carmela: José Pinheiro e Carmelita. Permaneceu no magistério até março de 1915, quando teve de tomar uma decisão corajosa, que exigia confiança em seu potencial: uma nova lei dispôs que o professor militar pedisse baixa dos quadros da ativa – as promoções seriam recebidas na reserva e de acordo com regras criadas nessa lei. Financeiramente, continuar como professor era muito mais vantajoso para ele – embora recém-casado e sem filhos, tinha dois enteados para criar. Mas abdicar do sonho de uma carreira autenticamente militar, apesar de significar uma queda em seus vencimentos, ele não queria. No dia 1º de março de 1915, Dutra se apresentava ao 1º Regimento de Cavalaria, no qual permaneceu até fevereiro de 1917. Nesse período, passou alguns meses servindo como assistente do Comando, na 4ª Brigada de Cavalaria, e, em 1916, foi promovido a primeiro-tenente. Quando deixou o Regimento de Cavalaria para ingressar na Escola do Estado-Maior do Exército, para a qual havia sido classificado em segundo lugar no concurso de admissão, Dutra recebeu honrosa referência do Comando. Foi aprovado com distinção ao término do primeiro ano de estudos na Escola do Estado-Maior. No início de 1918, em virtude dos resultados da Primeira Guerra Mundial que desde 1914 grassava na Europa, o ensino tático e técnico-militar foi suspenso. Dutra retornou ao 1º Regimento de Cavalaria. Em 1920 foi reaberta a Escola do Estado-Maior. Logo depois, tornou-se pai de um filho homem e foi promovido a capitão. Em 1923, concluía o curso como primeiro da turma, tornando-se um oficial do Estado-Maior do Exército. Promovido a major em 1927. Em 1929, recebeu a patente de tenente-coronel. Durante o Governo Provisório de Getúlio Vargas, foi promovido a general de brigada por decreto de 02 de setembro de 1932. Em julho do ano seguinte, era nomeado diretor da Aviação Militar, função na qual reorganizou no Distrito Federal a mais nova força armada, criando as unidades de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná e remodelando o ensino e a instrução do setor. Começou também a montagem de uma oficina de revisão de motores em São Paulo, além de fazer construir as primeiras companhias de preparação de terrenos e fundar a fábrica de reposição Parque Central de Aviação, em 1934. Em maio de 1935, Dutra alcançou o posto mais alto da hierarquia do Exército para a época: general de divisão. Em dezembro foi nomeado Ministro da Guerra, permanecendo nesse cargo durante oito anos e nove meses. A candidatura do general Eurico Gaspar Dutra foi lançada oficialmente em 13 de março de 1945 em São Paulo. Na convenção do PSD, marcada para acontecer no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, homologou o nome de Dutra como candidato da situação para o pleito de 02 de dezembro. O Presidente da República, José Linhares levou a bom termo as eleições, que se realizaram no dia marcado, 02 de dezembro de 1945, de forma honesta e tranqüila. Desde a abertura das primeiras urnas, a votação obtida por Dutra superava as expectativas. Gaspar Dutra assumiu a Presidência da República em 31 de janeiro de 1946. No dia seguinte, o Congresso Nacional se reuniu para instalar a Assembléia Constituinte, responsável por elaborar a nova Constituição, que, entre outras deliberações, restauraria o cargo de vice-presidente, extinto desde 1937. A escolha do nome para ocupar a Vice-Presidência se deu de forma indireta. Os congressistas elegeram o senador catarinense Nereu Ramos. O general Dutra foi eleito com 3.251.507 votos, representando 55,39% dos eleitores votantes. Havia euforia e esperança quando Dutra tomou posse, aos 63 anos. O ato foi realizado no Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro. A Segunda Guerra deixara o país na condição inusitada de credor, graças às garantias de exportação de produtos primários obtidos por Vargas e pelo crescimento da indústria nacional. O primeiro desentendimento se deu com a UDN passando à oposição, queixando-se de não desempenhar o papel que esperava no governo. Com a crise que acabou por vir, o resultado foi o aumento do custo de vida, devido a falta de restrições alfandegárias e o aumento das importações. Dutra baixou o Decreto nº 9.215, em abril de 1946, que proibiu o jogo em todo o território nacional, o que acabou com os cassinos e o florescente negócio do entretenimento expresso no teatro-revista, condenando músicos, atores, cantores, vedetes e técnicos ao desemprego. No mês seguinte, o Tribunal Superior Eleitoral cassava o registro do Partido Comunista Brasileiro. Ainda neste ano, foi promulgada a Constituição de 1946, em 18 de setembro. Estendia-se a Guerra Fria à América Latina. Em outubro de 1947, o Brasil fazia sua escolha, apoiando os EUA e rompendo relações com a União Soviética. Em seu mandato, Dutra tornou a Marinha e a Aeronáutica mais fortes com a criação do Estado-Maior das Forças Armadas, do Conselho de Segurança Nacional e da Escola Superior de Guerra. Na Educação, foi realizada uma grande campanha de alfabetização de adultos, considerada pela UNESCO a mais ampla já realizada até a época. A abertura da estrada Rio-São Paulo (atual Rodovia Presidente Dutra), o término da construção da estrada Rio-Bahia, a ampliação da rede ferroviária nos Estados de Goiás, Minas Gerais e Ceará, bem como a eletrificação das linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil, que foi concluída nos subúrbios do Rio de Janeiro e ampliada até Barra do Piraí, marcaram suas realizações. Depois da Presidência, mesmo permanecendo filiado ao PSD, Dutra se afastou da vida político-partidária. Eurico Gaspar Dutra viveu 91 anos com ‘sopro’ no coração que poderia “inutilizá-lo para sempre”, segundo os médicos. No dia 11 de junho de 1974, ele não resistiu a um ataque cardíaco, vindo a falecer. Foi seu discurso: “[...] Eleito e proclamado Presidente da República para o período que hoje se inicia, é com verdadeira emoção cívica que recebo das mãos de V. Exa. o alto cargo que vem exercendo desde 29 de outubro último. É mister assinalar que a Nação assistiu, durante esse lapso de tempo, ao esforço do Governo por bem conduzi-la com seus anseios e necessidades. Embora, justamente tocado no mais profundo dos meus sentimentos de cidadão pela alta honra que me conferiu o povo brasileiro, através da grande maioria de seus sufrágios, recebo a investidura sem vaidades, que nunca tive no serviço da Pátria, antes com a plena consciência das graves responsabilidades que a escolha impõe ao meu patriotismo e com o sincero desejo de concorrer para a paz da família brasileira, para a melhoria das condições de vida de todos os meus concidadãos e o crescente prestígio do nosso País no concerto das Nações civilizadas. [...]”.


Gaspar Dutra

Pesquisa: Hélvio Gomes Cordeiro (membro do Instituto Historiar).
Fonte: Presidentes do Brasil, Editora Rio.

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